Homens em Perigo

(Este texto é a transcrição de um podcast que fiz em 2007. Resolvi começar com ele pois a necessidade apresentada nele não só continua atual como, ao meu ver, está ainda mais presente.)
Este é o primeiro post do site Homem de Honra. O propósito deste site é despertar nos homens cristãos o desejo de serem homens segundo o coração de Deus. E, para isso, estamos propondo uma caminhada para descobrirmos o que é ser um homem segundo o coração de Deus, o que isto implica, como colocar isso em prática e de que maneira podemos chegar a ser um.
Gostaria de começar a pensar sobre este assunto, observando a crise que estamos vivendo com relação à questão da hombridade. Não temos falta de homens no mundo; temos falta de homens que saibam ser homens de verdade. Homens que saibam o seu papel, que realmente entendam o que se espera deles, para que foram criados, qual é a sua função, e que executem essas responsabilidades com fidelidade, com hombridade.
Se observarmos a sociedade em geral, vamos perceber que hoje existe uma crise de hombridade. Falta homens que realmente assumam o seu papel na sociedade e façam a diferença. E essa diferença não deve se manifestar apenas nos níveis mais altos do convívio social; ela deve começar nos lares. Percebemos que a falta de hombridade começa nas próprias casas, nas famílias. É aí que precisamos começar a fazer a diferença. Ao começarmos por esse ponto mais básico, conseguiremos impactar as esferas mais altas da nossa sociedade.
Entendo que essa crise atual de hombridade se evidencia em duas áreas. A primeira é a falta de responsabilidade. Observamos como as pessoas – e estou falando particularmente dos homens aqui – têm fugido das suas responsabilidades, aquelas coisas que deveriam fazer, que deveriam assumir, que deveriam realizar, e simplesmente deixam de lado. Deixam para os pais, para as esposas, para os filhos ou para qualquer outro fazer, mas eles mesmos não fazem. Aqueles que deveriam assumir responsabilidades simplesmente não assumem. Com isso, existe uma falta de realização, falta de execução; as coisas ficam ao léu, esperando para acontecerem por acaso, e na maioria das vezes, como alguém não assume a realização dessa tarefa, ela não acontece.
A segunda é a falta de integridade. Vemos homens que se deixam levar pelo ganho fácil, pela vantagem em todas as circunstâncias, que não assumem a consequência de seus atos, e que acabam inculcando essa postura em outros. Essa falta de integridade abre um leque de possibilidades para as maldades que acontecem nas famílias e, por consequência, na nossa sociedade.
Por que essas coisas têm acontecido? Por que, ao olhar para a sociedade como ela se apresenta hoje, vemos isso acontecer? O pior é que isso não acontece apenas na sociedade em geral; como estou falando com homens cristãos, percebemos que na igreja isso não é diferente. Muitas vezes, na igreja, testemunhamos a falta dessas duas coisas – tanto da responsabilidade quanto da integridade. Tarefas e ações que seriam responsabilidade dos homens são assumidas por mulheres, por jovens. Jovens que, muitas vezes, ainda são imaturos ou não estão prontos para assumir responsabilidades que deveriam ser de um homem maduro e formado. Isso sem contar os seríssimos problemas que temos visto na igreja pela falta de integridade dos líderes.
Por que as coisas têm chegado a esse ponto? Observando as situações e as pessoas envolvidas, percebemos que muitos tiveram uma formação deficiente. Essa deficiência está cada vez mais generalizada, gerando uma deformação na sociedade. Ao examinar as causas dessa formação deficiente, eu me preocupo com o futuro. Vejo uma geração inteira de homens sendo malformados, e entendo que faz parte da grande comissão de Cristo – o "Ide" – pregar o evangelho a todas as nações e ensinar todas as coisas que Ele nos ordenou, inclusive a ser homens conforme a Bíblia nos instrui.
Diagnosticar essas causas e fazer diferença ensinando-os a superar essas deficiências faz parte do nosso papel. Justamente essa é a visão que nos levou a investir no site Homem de Honra.
Quais são as causas dessa formação deficiente? Eu vejo três principais:
Primeiro, problemas na família. Temos assistido a um ataque constante do reino das trevas contra a família. São leis, programas de televisão, sugestões de sociólogos, psicólogos e tantos outros "ólogos" questionando a validade daquilo que chamam de família tradicional, composta de pai, mãe e filhos, criados num lar que oferece exemplo de convívio e formação. A falta dessa estrutura provoca diversos problemas nas crianças formadas em lares desestruturados.
Temos a questão dos lares formados por mães solteiras. Mulheres que, por diversas circunstâncias – e não estou aqui acusando-as, pelo contrário, me solidarizo com suas dificuldades –, se encontram criando meninos sozinhas. Elas podem ter sido violentadas, enganadas, abandonadas. Mas o menino criado sem a figura masculina padece do referencial de masculinidade e, consequentemente, de hombridade.
Temos os pais ausentes, ou seja, famílias compostas de pai, mãe e filhos, mas onde o pai não está presente. Seja pelo excesso de trabalho ou por preferir os amigos, o bar, o jogo, ou o churrasco ao convívio com sua família. Esses meninos padecem do referencial de um pai que dedica o tempo adequado à criação de seus filhos.
Temos também o pai que não é exemplar: ele pode estar presente, mas com comportamentos indesejáveis, como violência, omissão, adultério, que, se seguidos, também deformarão o caráter do filho.
A segunda causa é a influência da mídia. Se observarmos como a mídia retrata as famílias, vamos notar que, cada vez mais, a formação familiar é alternativa. A quantidade de histórias onde falta o pai ou a mãe é grande, principalmente o pai. Nas histórias em quadrinhos, por exemplo, o Pato Donald tem três sobrinhos e Mickey Mouse dois, mas nenhum tem filhos ou os pais presentes.
A terceira causa é a influência da escola. Li um artigo de Chuck Colson sobre como as escolas americanas vinham restringindo atividades masculinas. Uma escola em Atlanta, por exemplo, não tinha playground, pois a direção acreditava que atividades físicas levariam os meninos à hiperatividade. Como resultado, uma geração de meninos foi privada de um ambiente onde poderiam expressar sua energia.
Diante de tudo isso, como a igreja pode fazer diferença?
Larry Crabb, em seu livro "O Silêncio de Adão", percebeu que, muitas vezes, o consultório de psicologia não era o lugar mais adequado para ajudar homens a se sentirem homens. Ele idealizou uma igreja onde presbíteros, homens experimentados, pudessem ensinar e orientar os mais jovens a serem pais, profissionais, a assumirem responsabilidades e a manterem sua integridade.
Li esse livro há quase vinte anos e pensei que só conseguiria isso aos cinquenta ou sessenta anos. Mas descobri que essa necessidade é urgente. Vejo que posso começar a fazer essa diferença agora, ajudando homens mais jovens a aprender e a viver aquilo que já experimentei.
Este é o propósito deste site, deste trabalho, deste ministério que está começando. Compartilhar experiências para que os homens descubram como ser verdadeiros homens, conforme o coração de Deus.